O CRISTÃO NO MEIO DO MUNDO: REFLEXÃO SOBRE A LITURGIA DO XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A.
Província Santa Rita de Cássia
Brasil
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Será que alguns pensam que a cabeça foi feita somente para
colocar o boné? Parece-me absurdo questionar-me dessa maneira. Mas, devido ao
que se vê hoje em dia, sinto uma forte tentação de fazer tais interrogações.
Por via das dúvidas, é interessante deixar bem claro: a cabeça foi feita para
se usar, para pensar.
O cristão tem que usar os dotes de inteligência que o Senhor
lhe concedeu colocando-os ao serviço do Reino de Deus. Uma das prioridades na
nossa vida deveria ser, portanto, a formação: humana, profissional, espiritual,
intelectual. E, nesse sentido, a formação para as virtudes é importantíssima.
Um filho de Deus bem formado é uma joia maravilhosa no meio do mundo atual. A
superficialidade e falta de vigor mental é uma das grandes dificuldades que
podemos encontrar à hora de realizar o nosso apostolado. Por isso é importante
que nós mesmos estejamos bem formados para entender, compreender e atuar com
audácia apostólica. Necessitaríamos ser mais estratégicos.
Há um filme violentíssimo e bem realista, “Tropa de elite”,
no qual o decidido capitão Nascimento ensina, por ocasião do duríssimo
treinamento dos novos candidatos, uma palavra em várias línguas: estratégia.
Você se lembra daquela cena? Excetuando a maneira de pronunciá-la, a palavra
era quase igual nas diversas línguas utilizadas no filme. O cristão, em
qualquer lugar em que estiver, deve ser santamente estratégico no seu
apostolado. Tem que utilizar a inteligência auxiliada pela graça de Deus, tem
que ser esperto e ganhar muitas pessoas para as fileiras de Deus.
Se perguntássemos a alguma planta herbácea da qual sai o
trigo se ela se sente feliz em ser plantada na terra, ainda que junto a ela e
nela mesma se infiltre o joio, não obteríamos resposta. As plantas não pensam.
O ser humano, maravilha da criação, pensa inclusive sobre o próprio pensar e,
portanto, pode ir dando respostas cada vez mais perfeitas às suas
interrogações.
Na semana passada falávamos da importância das parábolas e da
exposição da fé de maneira acessível. Isso não significa renunciar á linguagem
teológica, aos conceitos da tradição, mas procurar ter a capacidade de
traduzi-los. Desta maneira, introduziremos as pessoas no campo de Deus, da
Escritura, da Tradição, da graça e, como consequência de tudo isso, as insertaremos
na glória.
A Igreja Católica, sendo Santa, sempre fugiu dos diversos
puritanismos, rigorismos e da mentalidade de seita, ou seja, duma visão
estreita e separatista. Ela deseja que os seus filhos estejam no meio do mundo,
convivendo com os seus iguais, como o bom trigo, e no mesmo campo que o joio.
No entanto, o trigo não se sente mal, não se sente estranho no seu próprio
ambiente. Se tivesse consciência, o trigo saberia que aquele é o seu lugar
natural, deve estar aí, nem deseja que o plantem nos ares, aí não sobreviveria.
Ainda que o joio, esta planta que engloba os vegetais e cresce às suas custas,
lhe subtraia algumas energias, deve continuar aí no mesmo lugar.
Como o cristão é da terra, está inserido nas coisas deste
mundo e as ama, tem que ter as ideias bem claras. Sem formação não poderá
informar o mundo com a forma que Cristo quer para esse mundo. Que tipo de
formação? É muito importante que esteja bem formado nos “rudimentos” da fé,
deve ter pelo menos uma linha geral da história sagrada que se nos narra na
Bíblia e ter uma informação amplia pelo menos dos últimos documentos mais
importantes do Magistério da Igreja. Mais concretamente, o conhecimento da
Sagrada Escritura, do Catecismo da Igreja Católica e dos documentos do Concílio
Vaticano II é importantíssimo. Seria interessante que nos programássemos para,
pouco a pouco, ir lendo esses três livros e ter sempre uma pessoa de referência
para que possamos perguntar-lhe algumas coisas que não entenderemos na nossa
leitura.
Com as ideias claras é preciso lutar por vivê-las. Todo o
amplo mundo das virtudes humanas que podemos resumir nas quatro cardeais
–prudência, justiça, fortaleza e temperança– e das virtudes teologais –fé,
esperança e caridade– deveria ser o campo de um trabalho pessoal, constante e
alegre. Não nos esqueçamos de que Deus teve a iniciativa, ele nos amou e
colocou no nosso coração a capacidade de amá-lo.
Pe.
Françoá Costa
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