SANTO AGOSTINHO: A PROCURA DA VERDADE NO INTERIOR DO SER HUMANO.
Província Santa Rita de Cássia
Brasil
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"Não é certo que os leitores de Agostinho passarão
os portais do céu. Mas é seguro que eles entrarão no paraíso da
literatura." Assim se referiu com muita pertinência a santo
Agostinho o historiador materialista Luiz Felipe de Alencastro, num pequeno
artigo sobre este que é um dos maiores pensadores católicos de todos os tempos.
De fato, além de filósofo, Agostinho era
um escritor primoroso, expoente da literatura em língua latina, o que pode ser
confirmado principalmente pela leitura das suas Confissões, uma obra-prima. No
entanto, infelizmente, mesmo lido em português, não se trata de um livro fácil
para o leitor de hoje. Contraditoriamente, trata-se de uma obra de gritante
atualidade.
Quem quiser se aventurar a conhecê-la
deve se lembrar de que só se pode ver o panorama esplendoroso do pico de uma
montanha depois de empreender uma difícil escalada. Da mesma maneira, é difícil
explicar em poucas linhas a obra de Agostinho, que conta com cerca de 5 milhões de
palavras.
Aspectos biográficos
Por isso, este artigo se limitará a
alguns aspectos do filósofo e teólogo, a começar pelos biográficos, já que as Confissões
são, em sua maior parte, uma autobiografia - a primeira escrita na história da
humanidade.
Agostinho ou Aurelius Augustinus (354-430) foi um homem que
viveu num momento limite: o Império romano se esfacelava: com a queda de Roma
terminava o mundo antigo e tinha início a Idade Média, por isso, talvez, o
filósofo tenha produzido uma obra que é essencialmente a síntese do pensamento
de Platão com
o cristianismo.
Seus pais se esforçaram para mandá-lo
estudar na Universidade de Cartago, a grande metrópole da África romana. Em vez
de dedicar-se aos estudos, Agostinho preferiu dedicar-se a uma vida de prazeres,
preferencialmente os sexuais, tanto que se celebrizou sua seguinte frase: "Senhor,
torna-me casto, mas não ainda".
Independentemente disso, Agostinho leu o
filósofo e orador romano Cícero (106-43a.C.) e, influenciado por ele,
deu início a uma busca
filosófica pela verdade, que o levou a adotar as mais diversas
posições filosóficas e religiosas (maniqueísmo, ceticismo) até abraçar o
cristianismo aos 32 anos. Mais tarde se tornaria bispo da cidade de Hipona (atual Annaba, na
Argélia).
O tempo
Segundo ele mesmo relata, obteve nesse
momento uma revelação divina, juntamente com sua mãe (Santa Mônica), e mudou de vida,
embora seu pensamento, desde então, evoluísse gradativamente, com as ideias
amadurecendo ao longo do tempo. O tempo, aliás, foi objeto de suas reflexões,
que, sobre esse tema, anteciparam o pensamento de Descartes (1596-1650), Kant (1724-1784),
e Schopenhauer
(1788-1860).
Para Agostinho, o tempo não tem realidade em si, é uma
invenção do homem, constituído por três nadas: o passado, que não existe mais;
o futuro, que ainda não existe; e o presente, tão fugaz que é uma mistura de
passado e futuro. É a partir daí que se compreende com certa
facilidade a concepção
agostiniana de Deus.
Assim como Platão (427-347 a.C.), Agostinho
concebe Deus como uma entidade que pertence a um reino de verdades atemporais,
perfeitas e imateriais, com o qual só temos contato de maneira não-sensorial:
tendo sido feitos à imagem e semelhança de Deus, uma parte desse reino existe
dentro de nós (e pode ser identificado com a alma).
Interioridade
“Dentro” é outra palavra chave para conhecer o
pensamento de Agostinho: em sua busca filosófica, ele deixou de lado a reflexão
sobre o mundo exterior, e fez uma profunda introspecção para descobrir a sua
interioridade, a essência do ser humano. Por isso, Agostinho é
considerado também um pioneiro da psicologia.
Para encerrar, convém lembrar que o Cristianismo
- antes de
Agostinho - pouco tinha de
filosófico: consistia
da crença num Deus criador que se fez homem e num conjunto de instruções morais.
Por isso, o filósofo pôde conciliá-lo sem contradições ao platonismo.
Por Antonio Carlos Olivieri - Da Página
3 Pedagogia & Comunicação é escritor, jornalista e diretor da Página 3
Pedagogia & Comunicação.
Edição para o Blog da Província: Frei Ricardo Alberto Dias, OAR
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