ARTIGO ESCRITO POR FREI RICARDO: A FÉ E A RAZÃO NO PENSAMENTO MEDIEVAL.
Província Santa Rita de Cássia
Brasil
COMPARTILHAMOS AQUI UM ARTIGO REDIGIDO PELO RELIGIOSO FREI
RICARDO ALBERTO DIAS, OAR, NO QUAL NOS CONVIDA A REFLEXÃO SOBRE A FÉ E A RAZÃO
NO PENSAMENTO MEDIEVAL.
O problema da fé e da razão é muito
antigo na História da Igreja, ou seja, está presente desde suas primícias.
Primeiramente, no Oriente e propriamente, depois do século VII no Ocidente.
Esta relação (fé e razão) adquire uma evolução histórica, dividida em três
grandes períodos:
· Primeira Escolástica (século IX ao XII):
Caracterizou-se pela conversão dos bárbaros politeístas ao cristianismo. A
Igreja como instituição sobrevivente. Junção da cultura germânica com a latina
cristã. Sem evolução das letras, ciências e artes, com evolução somente no
final deste período. Caloríngenos (colecionam manuscritos antigos de autores
pagãos e dos Santos Padres). As principais figuras neste período são: João Escoto Eriúgena (810-877),
preocupou-se em harmonizar filosofia e religião. Deu uma sustentação
teológico-filosófico à unificação do poder secular (Império) e do poder
religioso (Igreja); Anselmo de Cantuária
(1033-1109), apologista e grande produtor cultural. Considerado “Pai da
Escolástica”, inflamado no espírito de Santo Agostinho. O homem tem sua fonte
de conhecimento na fé e na razão. Propõe a racionalização da verdade revelada; Pedro Abelardo (1079-1152), situado no
início do movimento dos dialéticos. Muito talentoso na lógica e compartilha com
Anselmo os mistérios da fé por via racional.
· Apogeu da Escolástica (século XIII):
Surgem as grandes ordens religiosas mendicantes (Dominicanos e Franciscanos).
Culmina o poder temporal dos papas. As obras de Aristóteles são introduzidas no
mundo latino. Constituem as universidades. Ainda neste período, a Escola Franciscana ocupou um lugar
especial, assumindo o aristotelismo e mais tarde o agostianismo. Dentro desta
mesma escola, destacam-se: São Boaventura
(1217-1274), preocupa-se com a unidade do saber cristão; Rogério Bacon (1175-1253), precursor da ciência moderna, para ele,
as provas da experiência constituem a melhor forma da experiência; João Duns Escoto (1266-1308), inspirador
da Escola Franciscana, tentou conciliar numa síntese filosófica o que havia de
válido no aristotelismo e no agostinismo e se opôs ao tomismo, utilizando-se
dos parâmetros básicos da tradição agostiniana e anselmiana. Para ele, o Deus
vivo e pessoal da fé está fora do alcance da razão, por isso, a razão deve
abandonar a presunção de desvendar os mistérios de Deus, que são objetos da fé;
Raimundo Lúlio (1233-1316), em sua
obra “Ars Magna”, a partir de
equações e figuras matemáticas, expõe as preposições da filosofia e da teologia
com o objetivo de converter os mulçumanos à fé cristã. Por outro lado exalta o
valor da razão, de outro, é um místico de inspiração neoplatonica.
ü Também
a Escola Dominicana tem seu lugar neste contexto histórico. Entre eles
destacaram-se: Alberto Magno
(1193-1280) inseriu o aristotelismo no pensamento cristão, porém em suas obras
não estão ausentes os elementos platônicos, pois seus grandes mestres são
Aristóteles e Agostinho; Tomás de Aquino
(1221-1274), propõe-se conciliar criticamente a fé e a razão, escolhendo como
instrumento o aristotelismo.
· Escolástica Decadente (séculos XIV e XV):
Começou com o conflito entre poder temporal (reis) e poder espiritual (papa),
no início do século XIV, em conseqüência da constituição dos povos cristãos em nações. Passa a
preocupar-se mais com os problemas da lógica e da lógica da linguagem. Continua
a questão dos universais e do nominalismo, surgindo também grandes místicos. Os
pensadores principais deste período são: Guilherme
de Ockam (1285-1349), característica filosófica crítica. Só aceita como
conhecimento seguro aquele que é percebido com evidência ou deduzido de
verdades imediatamente evidentes. Mostra um domínio extraordinário da lógica e
uma predileção clara pela coisa individual, pela experiência e pela observação.
ü Paralelamente
ao nominalismo desenvolveu-se uma forte tendência mística, trata-se de uma tentativa de reação a este mesmo
nominalismo, com sua separação radical entre fé e razão. Entre os místicos se
destaca João Eckhart (1260-1327), em seus escritos manifesta, ao mesmo
tempo, influência escolástica e neoplatônica, elaborando uma síntese nova com
profundeza afetiva e ardor especulativo.
Assim,
chegamos a uma separação radical (fé-razão), com autonomia da razão em relação
à fé, ou seja, um domínio da razão sobre a fé. Com isso, abre-se à reforma de
Lutero e ao caminho definitivo para o pensamento moderno.
Por Frei Ricardo
Alberto Dias, OAR
BIBLIOGRAFIA: ZILLES, Urbano. Fé e Razão no pensamento medieval. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1993,
pp. 79-125.
Saiba mais acessando a nossa WEB OFICIAL:
Comentários
Postar um comentário