DESAFIOS DO COTIDIANO – REFLEXÃO PARA O XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A (Mt 14,22-33).
Província Santa Rita de Cássia
Brasil
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Cinco mil homens! Cinco mil homens! E Jesus tem a audácia de
pronunciar aos seus discípulos as seguintes palavras: “Dai-lhe vós mesmo de comer”. Não
eram “caritas”, nem uma ONG, tampouco eram os vicentinos, muito menos uma
filantropia organizada. Eram somente doze homens que seguiam a Jesus e que
compartiam aquilo que conseguiam entre todos. Como alimentar a cinco mil, isso
sem contar as mulheres e as crianças? Gente demais!
Grande desafio à fé pessoal daqueles homens! Trata-se de um
dos impossíveis de Deus, não porque seja impossível para Deus, mas porque nós
os vemos como coisas que superam as nossas capacidades. O mesmo se diga se o
Senhor nos ordenasse a transladar montanhas, a andar sobre as águas, a expulsar
legiões de demônios, a ressuscitar mortos.
Essas coisas são verdadeiramente grandes aos nossos olhos.
Mas também é verdade que com certa frequência nos sentimos desafiados por
coisas bem menores. Quando Deus nos pede que façamos todos os dias um momento
de oração na mesma hora, quando nos mostra que deveríamos fazer alguma penitência
ou mortificação, quando insinua que devemos ir ao encontro de alguém e
falar-lhe claramente que isso ou aquilo não está bem e que deveria mudar tal
conduta, quando nos anima a convidar a um amigo a participar de alguma
atividade na paróquia, quando… Esses são desafios que às vezes podem custar
muito, ainda que sejam pequenos e possíveis aos nossos olhos. Há outros ainda:
despertar-se na hora certa todos os dias, ler a Bíblia diariamente (ainda que
sejam somente 5 minutinhos), ir a Missa todos os domingos e festas (sem
faltar). Há outros? Poderíamos continuar enumerando-os, mas já é suficiente.
Em toda essa epopeia cotidiana o mais importante é que
percebamos duas coisas: 1ª) é Jesus quem nos pede, 2ª) podemos oferecer com
simplicidade aquilo que temos, ainda que sejam tão somente cinco pães e dois
peixes.
Quando Jesus nos pede algo é preciso confiar que ele nos dará
todas as graças, todo o auxílio e a força necessária para levarmos a bom termo
aquilo que ele nos pede. Com outras palavras: se Deus nos pede alguma coisa é
porque é a sua vontade e, portanto, o primeiro interessado em que isso aconteça
é o mesmo Deus. Confiemos! Saber que estamos procurando fazer a vontade de Deus
em cada momento deve encher-nos de paz e tranquilidade. Conta-se de Santa Bakhita,
aquela escrava no Sudão que se tornou religiosa, que ao receber a visita de um
Prelado, este lhe perguntou: “e o que a senhora faz, irmã?” Respondeu-lhe ela:
“o mesmo que vós, excelência.” O bispo, intrigado, perguntou; “o mesmo que
eu?”. A religiosa respondeu: “sim, o mesmo que vós: cumprir a vontade de Deus.”
Não importa onde estejamos, aí mesmo, nesse lugar concreto, Deus pede que
façamos a sua vontade com uma confiança total nele.
Mais concretamente, podemos e devemos colocar à disposição
dos projetos de Deus para este mundo os cinco pães e dois peixes que temos, a
começar pelos nossos cinco sentidos funcionando sob o impulso das faculdades
superiores: inteligência e vontade. A visão, o tato, o paladar, a audição e o
olfato (cinco pães) quando governados e auxiliados pela inteligência e a
vontade (dois peixes) são “matéria” para que Deus realize verdadeiras obras da
graça, algumas das quais só saberemos na eternidade. O importante é andar pelo
mundo fazendo o bem. Fazendo o que está da nossa parte nem nos preocuparemos
muito pelas estadísticas, teremos como único empenho realizar aquilo que Deus
nos pede a cada momento.
Ver cristãmente, dar-nos conta de que o mundo necessita dessa
visão que nós podemos oferecer – visão cristã das coisas – e oferecê-la através
dos distintos meios é fazer a vontade a Deus. Viver a temperança, a sobriedade,
aprender a saborear as coisas de Deus são realidades que manifestam que o tato
e o paladar estão postos ao serviço do Reino de Deus. A nossa vida
elegantemente sóbria dará uma imagem cada vez mais perfeita do que significa
ser “uma pessoa que faz a vontade de Deus”. O bom gosto, o ouvido afinado, a
percepção tanto daquilo que cheira bem espiritualmente quanto daquilo que fede
expressarão que conservamos em bom estado tanto a audição quanto o olfato.
Acreditemos: temos muito que contribuir para que aconteçam verdadeiros
prodígios. Basta que ponhamos todo o nosso entendimento, o nosso engenho e as
melhores energias da nossa vontade em encontrar as melhores maneiras de fazer
aquilo que rezamos no Pai-nosso: “seja feita a vossa vontade”.
Pe.
Françoá Costa
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