UMA ANÁLISE DOS SONHOS SEGUNDO A PERSPECTIVA JUNGUIANA NAS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO.

Província Santa Rita de Cássia
Brasil


Os sonhos ocupam um lugar de destaque na visão e na prática da psicologia analítica. Jung, inicialmente partindo de Freud, mas depois dele distanciando-se vê nos sonhos uma função do Si-mesmo. Eles refletem sua influência e servem para compensar o estado consciente da pessoa, o que significa que ele questiona a nossa auto-imagem consciente. Isto ocorre quando o sonho traz para a consciência informações, ênfases ignoradas ou abrandadas pelas atitudes conscientes.

Também para Agostinho o estudo dos sonhos é um instrumento importante para a compreensão da psique humana na relação com Deus e o mundo espiritual. Isto se deve ao fato de Agostinho possuir uma visão psicológica e epistemológica baseada num sofisticado dualismo psicofísico em que são considerados dois tipos de realidades essencialmente diversas: uma puramente corpórea ou física e outra não-corpórea ou mental cuja natureza provém do plano do espírito.

Por isto que sua visão psicológica da percepção é considerada das mais profundas do mundo antigo e podemos ver exemplos disto em Confissões. Para ele o homem é dotado de olhos externos que recebem e intermediam as impressões sensoriais, e de um olhar interior, que observa e lida com as realidades mentais recolhidas e armazenadas que formam a memória. Assim, por meio de visões, transes e sonhos entra-se em contato com um acervo de lembranças inconscientes e conteúdos autônomos, tendo-se acesso a um mundo chamado na época de domínio do espírito e que Jung chamou de psique objetiva. Nenhum ser humano tem poder ou controle sobre esse mundo, os conteúdos dos sonhos e visões são tão objetivos e colocados diante do olhar interno quanto o é a experiência sensorial em relação aos olhos exteriores.

Importante é o sonho de Mônica quando Agostinho rejeitava os seus insistentes pedidos de conversão:

"Nesse sonho, viu-se de pé sobre uma régua de madeira, e um jovem luminoso e alegre lhe foi sorridente ao encontro, enquanto ela estava triste e amargurada. Perguntou-se os motivos da tristeza e das lágrimas cotidianas, não por curiosidade, mas para instruí-la, como acontece muitas vezes. E respondendo ela que chorava a minha perdição, ela a confortou, aconselhando-lhe que prestasse atenção e visse que onde ela se encontrava aí estava também eu. Ela olhou e me viu diante de si, de pé, na mesma régua.
Quando ela me contou o sonho, tentei dizer-lhe que ela não devia perder a esperança de um dia vir a ser como eu. Mas ela me respondeu imediatamente, sem hesitação: "Não, não me foi dito: ' onde ele está, aí estarás tu'. Mas sim: ' onde estás, aí estará também ele".
Confesso-te, Senhor, tanto quanto posso me lembrar, e nunca o escondi: mais do que o próprio sonho, abalou-me aquela tua resposta, dada por intermédio da solicitude de minha mãe. Ela não se perturbou diante de uma interpretação sutil, porém falsa, e logo percebeu o que devia ser visto e o que eu na verdade não tinha visto antes de ela contar. Por esse sonho, foi anunciada com antecedência, a essa piedosa mulher, para sua consolação na aflição presente, uma alegria que só teria muito tempo depois".

Por Vitor Pedro Calixto dos Santos


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