SANTO AGOSTINHO RESPONDE

Cúria Geral OAR
Roma - Itália

Esta é uma seção do site oficial de nossa Ordem onde você pode consultar a uma  equipe de especialistas sobre santo Agostinho, sua obra e o carisma agostiniano. Envie sua pergunta: http://www.agustinosrecoletos.com/preguntas/inicio



Pergunta
Enviada por Jesús Viveros             
 
Há uma frase atribuída a Santo Agostinho de que as mulheres não devem ser iluminadas nem educadas de nenhuma forma. De fato deveriam ser segregadas. É, de fato, uma frase de Santo Agostinho? Obrigado por sua atenção. Deus os abençoe.


 
 
Eguiarte


 
Enrique A. Eguiarte B. (1960), é religioso agostiniano recoleto, licenciado em Literatura Latino-americana pela Universidade Ibero-americana da Cidade do México (1991), Mestrado em Letras Modernas pela mesma Universidade (1996). Doutor em Filosofia e Letras pela Universidade de Navarra (1999) e Doutor em Teologia e Ciências Patrísticas pelo Institutum Patristicum…



 

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Querido Jesus:
Obrigado pela pergunta. A frase que você comenta e que alguém atribuiu a santo Agostinho é obviamente falsa. Santo Agostinho, apesar de haver vivido em uma cultura onde se dava primazia ao varão, nunca foi um misógino.
Santo Agostinho viveu em uma sociedade incipientemente cristã e fortemente marcada e modelada pela tradição romana expressa pelo mesmo direito romano. Para o direito romano, a mulher essencialmente era um ser alieni iuris, quer dizer, uma criatura dependente de outro na maior parte dos momentos de sua vida. Pode-se contar e apontar as mulheres, grandes e poderosas matronas romanas que, pelo menos de maneira implícita, chegavam a ser sui iuris, quer dizer, independentes e ter uma personalidade jurídica própria. A sociedade romana é, portanto, uma sociedade na qual a mulher é vista como uma criatura de segunda categoria.
Por outro lado, o pensamento de santo Agostinho está marcado pela Sagrada Escritura. No livro do Gênesis são encontradas duas visões, a da igualdade entre homem e mulher (Gn 1, 27) e um pouco depois, a da superioridade do homem sobre a mulher (Gn 2, 22-24).
Por isso, santo Agostinho, fiel a seus princípios exegéticos de interpretar a Escritura com a mesma Escritura, buscará a solução desta antítese nos escritos de são Paulo. Em suas epístolas são Paulo apresenta – por causa de sua época e tradições – uma visão e inclinação de clara subordinação da mulher ao homem. Muitos dos textos mais discutidos de santo Agostinho sobre este tema, como acontece em outros muitos casos, não passarão de uma tentativa de explicação exegética de algum texto paulino.
Até este ponto, santo Agostinho não chegou a sair dos elementos próprios de sua cultura e do pensamento cristão moldado pela Sagrada Escritura. Contudo, a reflexão de santo Agostinho, em sua lucidez e sinceridade, vai mais além, a ponto de reconhecer que, apesar de todas estas considerações próprias de seu tempo e da reflexão em torno do assunto, a mulher é um ser de uma estatura enorme, humana e, espiritualmente falando, que ultrapassa os limites a que sua cultura queria confiná-la.
Em primeiro lugar, quem sai ao resgate da condição feminina e, em geral, da raça e condição humana, não é outra senão a Virgem Maria que, com sua própria e obediente entrega ao plano de Deus, como nova Eva repara os estragos feitos pela desobediência da primeira Eva (s. 51, 3). Para santo Agostinho, a Virgem Maria é não só o protótipo e ideal de toda mulher, mas também de todo cristão (s.191, 4) e, inclusive, da mesma Igreja que, como ela, é também Virgem e Mãe (virg. 2, 2).
Deste modo santo Agostinho reconhece que a mulher, apesar de sua debilidade e limitações físicas, pode ter uma inteireza e uma fortaleza inusitadas, capaz de afrontar as adversidades e a morte com grande força de espírito, como acontece no caso das mártires, representadas particularmente pelas figuras de duas cartaginesas bem populares na África de então, Perpétua e Felicidade, que não deixam de encher de admiração ao Bispo de Hipona, como fica manifesto nos sermões dedicados a elas (s. 280, 281, 282, s. Erfurt1).
Mas, provavelmente, a mulher com a qual santo Agostinho teve maior proximidade e a que mais lhe transmitiu a imensa riqueza que encerra a condição feminina, foi sua mãe santa Mônica. Nela santo Agostinho admirará a constância na oração e, por meio dela, se dará conta da fortaleza e dignidade que a mulher pode apresentar em meio às maiores provas e dificuldades, sobretudo quando se apóia em Deus, como foi o caso de sua mãe. Santo Agostinho apontará também a riqueza espiritual que pode haver na maternidade e no cuidado espiritual das verdadeiras mães para com seus filhos, dando-lhes à luz quantas vezes percebe que se afastam de Deus. Por outro lado, sabe também que santa Mônica, apesar de ser pessoa com uma limitada preparação acadêmica, possui uma inteligência viva e aguda, o que leva santo Agostinho a ter consciência de que as mulheres podem ser não só tão inteligentes quanto os homens, como podem, em alguns casos, ultrapassá-los.
Saudações. Enrique. 

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