ORAÇÃO, ESMOLA E JEJUM

Há uma tríade religiosa e ascética presente em quase todas as religiões: oração, esmola e jejum. Pela oração, a pessoa exalta a Deus e O reconhece como seu senhor; pela esmola, ela se volta para seu irmão para ajudá-lo e para minorar seus sofrimentos; e pelo jejum, a pessoa procura se purificar de suas tendências egoístas e tornar-se mais santa.
Por sua natureza, a vida é uma força selvagem, de uma pujança espantosa, duma majestade apaixonante, duma beleza muitas vezes cruel. O homem pode ser levado a idolatrá-la. Idolatrada, torna-se uma força equívoca. Para não cair neste equívoco, a pessoa tem necessidade de ascese, ou de penitência ou conversão.
Toda a Tradição ascética cristã encontrou, possivelmente, uma melhor formulação na expressão: Nudus nudum Christum sequi (Nu seguir o Cristo nu).
A ascese ou penitência não é uma operação fechada sobre si mesma, com finalidade própria, restrita aos atletas espirituais. Todas as técnicas e exercícios ascéticos cristãos (oração, esmola e jejum) são personalizados, isto é, recebem o caráter não só da pessoa que os faz, mas da graça da pessoa por quem são feitos.
A penitência, por isto, mais do que um caminho em direção ao próprio mundo, é uma luta para sair dele, em direção aos outros.

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Os judeus jejuavam até duas vezes por semana, davam esmolas e rezavam. Os essênios abstinham-se de relações sexuais, renunciavam ao banho e toda espécie de comodidades. Os filósofos usavam técnicas para dominar o corpo e as paixões. No cristianismo, existe uma pessoa que é o ponto referencial do nosso comportamento ascético. E é, por esta pessoa, o Cristo, que o cristão, “na dor”, reza, jejua e dá esmola, anunciando a morte do Senhor “até que Ele venha” (1Cor 11,26).
A ascese cristã não consiste em mortificar o corpo, no sentido moderno do termo, mas em morti-ficar (fazer morrer) em nós o homem carnal, a carne do dilúvio, em matar o velho Adão, para que o novo tome seu lugar.
A ascese cristã não consiste em reagir, propositadamente, contra qualquer movimento espontâneo, qualquer sensação agradável, qualquer ocasião de alegria, qualquer repouso. “Não te recuses à felicidade presente! Não deixes escapar coisa alguma de um desejo legítimo!” (Eclo 14,14).
A ascese cristã não consiste em obedecer cegamente, sem critérios, mas em viver uma liberdade capaz de iniciativas ponderadas e rupturas corajosas.

A ascese cristã não procura, a todo preço, arrancar qualquer capinzinho (joio, erva daninha) ou inseto em nosso jardim espiritual, e sim em cultivar melhor os frutos e as flores que ele pode, com a graça de Deus e ajuda dos irmãos, produzir. A verdadeira ascese visa a fazer-nos mais livres, levando-nos a viver mais plenamente. Sempre na alegria. Com a cabeça perfumada. Sem neuroses. Com os olhos pregados em Deus. Longe de azedas condenações. Em alegre esperança. Com os sentimentos de Cristo.

Lembre-se: 1) a ascese é um meio, só um meio; 2) a ascese tem um valor relativo e sempre a serviço do amor, e só a fazemos para identificar-nos com alguém, Cristo ou o irmão; 3) a ascese é necessária para o fortalecimento do homem espiritual, interior; 4) a ascese não faz ninguém santo, mas os santos fazem ascese!


Fonte:  Jornal Testemunho de Fé - Frei Neylor J. Tonin, OFM

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